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O MERCADO DE ATIVOS ESTRESSADOS DE MÉDIO E BAIXO RISCO

 

Por Marcio Barbero*

 

Desde a eleição presidencial do dia 28 de outubro, tem se esperado um novo tempo para a economia brasileira. A transição política, o anúncio da equipe ministerial e as propostas para a retomada do crescimento do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL/SP) têm voltado os olhos para o mercado financeiro e atiçado os investidores. Já nos primeiros dias póseleição, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) apresentou reações de forma oscilante, tendendo a altas e baixas, assim como a variação cambial e a cotação do dólar. Alguns analistas indicam que a Bolsa pode atingir os 125 mil pontos.

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A recuperação econômica que o Brasil exige ainda tem um longo caminho a ser percorrido, e as incertezas da nova conjuntura política têm levado alguns investidores a manterem a diversificação das carteiras de investimentos como forma de promover novos negócios, movimentar o capital e atuar em diferentes tipos de investimentos. Comum em parte do mundo para a capitalização da economia, principalmente nos Estados Unidos, o mercado de ativos estressados tem, finalmente, merecido a atenção dos players no Brasil.

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A estagnação econômica dos últimos três anos e as retrações do crédito, do consumo e do mercado de trabalho, atreladas às operações da Polícia Federal (PF), como a Lava Jato e a Zelotes, produziram no Brasil um movimento considerável de empresas dos mais variados portes e setores da economia que tiveram que recorrer aos processos de Recuperação Judicial (RJ), extrajudicial ou falência na esperança de quitar débitos com os credores.

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Os cenários destas companhias – com alto endividamento, imagem abalada no mercado e nas instituições financeiras e dificuldades para manter ou finalizar a operação ou executar os planos de recuperação autorizados pela Justiça ou os extrajudiciais – abrem espaço para a expansão da compra de ativos estressados (ou créditos podres), estratégia de ganha-ganha que tem a finalidade de ajudar as empresas em situação frágil ou de insolvência a buscarem ou recuperarem os créditos e a credibilidade no setor.

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Os investidores mais atentos e que trabalham há bastante tempo como players no mercado de distressed assets têm obtido altas rentabilidades nestas transações, principalmente para ativos de médio e baixo risco. Para recuperar o crédito, muitas empresas recorrem à oferta dos próprios bens que se tornam ativos passíveis de serem adquiridos com forte deságio. Há casos, por exemplo, de companhias que disponibilizam instalações fabris inteiras, prédios, galpões, maquinário, carros, caminhões e até patentes, em uma grande “queima de estoque”.

 

Com a expertise e o faro para bons negócios, o investidor busca nestas ofertas com deságio adquirir um bem para que, no futuro, possa ser revendido para outro comprador, gerando o lucro acima do capital investido anteriormente. Nesta situação, se uma empresa oferta como ativo estressado um galpão ou uma sala comercial com deságio de 60% do valor de mercado, o investidor terá condições de, ao adquirir com desconto, recuperar o dinheiro aportado e lucrar com a venda do valor normal de mercado desse imóvel. Este é o grande atrativo deste tipo de investimento.

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Ativos considerados de médio e baixo risco no mercado de crédito podre são excelentes opções para aporte financeiro. Como em alguns casos os bens ofertados pelas empresas possuem giro rápido de venda – desde que dentro das conformidades estabelecidas pela legislação na hora da compra e da venda –, é bastante plausível que o investidor consiga ter um rápido retorno do investimento, diferentemente, inclusive, de outras operações dentro do mercado de ativos estressados.

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Mesmo pela aparente facilidade da modalidade, todo investimento desta natureza deve ser precedido de uma rigorosa análise do bem que se está disposto a adquirir. Nos casos de bens imóveis, é fundamental atestar se não há impeditivos, tais como penhora, hipoteca, dívidas tributárias, etc. Para o investidor/revendedor do ativo, é mais seguro iniciar uma negociação somente após “limpar” o título comprado.

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Apesar de ainda jovem, o mercado brasileiro de operações de distressed assets já está respaldado legalmente. A Lei nº 11.101/2015, de Recuperação Judicial, trouxe avanços para os players de todos os portes e potenciais de investimento. Hoje, até mesmo os ativos e bens bloqueados pela Justiça brasileira (em constrição) podem ser alvos de investidores, desde que a detentora consiga uma autorização legal de comercialização.

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Por fim, é fato inconteste que o mercado de ativos estressados de médio ou baixo risco (bens imóveis de empresas) tem grande potencial de crescimento no Brasil. Por cultura, é sabido que em momentos de forte oscilação política e econômica, não raro o investidor brasileiro busca em bens imóveis a garantia de investir para, posteriormente, rentabilizar. Com estas ofertas, não olhar com bons olhos para este novo mercado é perder um grande potencial de investimento e de retorno financeiro.

 

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*Marcio Barbero é CEO da DW Distressed, fundo que opera no
mercado de ativos estressados e que faz parte da Downwind Group

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